Arte que vira história: Cunha conquista título de Capital Nacional da Cerâmica de Alta Temperatura

Projeto foi aprovado no Plenário do Senado nesta semana e segue agora para sansão presidencial.

As cores, formatos, tamanhos e detalhes singulares das cerâmicas feitas em fornos que chegam até 1.400 ºC fazem parte, há quase 50 anos, do cotidiano dos moradores de Cunha, município localizado a 228 km de São Paulo.

E não é à toa que a cidade conquistou esse título (pelo PLC 00065 2018), afinal todo mundo que já passou pela cidade se encanta com as peças artísticas e comerciais espalhadas por ateliês, lojas e demais comércios.

A atividade foi introduzida na região por influências indígena e ibérica e, por volta de 1975, houve uma mudança na forma de ser manusear a cerâmica com a construção do primeiro forno Noborigama – no Brasil existem pouco mais de 20 até onde se sabe, sendo que 6 deles estão em Cunha – de alta temperatura e o processo de queima das cerâmicas nele dura cerca de 32 horas. Quando o forno esfria, é feita sua abertura, muitas vezes com permissão de visitação do público, ação que gera fluxo turístico e permite que a cultura da arte em cerâmica seja cada vez mais difundida.

A cidade conseguiu criar o ambiente perfeito para que a atividade fosse abraçada pelos investidores: Cunha reúne a madeira de reflorestamento (que possibilita o funcionamento das caieiras e dos fornos) e a argila (retirada das margens de seus rios, riachos e encostas).

Para o secretário de Turismo e Cultura, Mateus Novaes, “esse título veio para coroar nossa cultura local, é a ‘cereja do bolo’. Já temos a atividade em cerâmica aqui na cidade há muitas décadas, que começou com os indígenas, passando pela tradicional cerâmica das paneleiras – que queimavam a matéria-prima a baixas temperaturas e a impermeabilizavam com cera de abelha. Depois, os ceramistas mais novos trouxeram a técnica japonesa (de altas temperaturas) e receberam um espaço cedido pela Prefeitura para fazer a atividade crescer. Temos a maior concentração de fornos Noborigama fora do Japão e o trabalho de arte em cerâmica de Cunha é reconhecido internacionalmente, temos até ceramistas e estudantes ministrando workshops e palestras em outros países. Pensando no turismo, com essa chancela, agora temos um argumento ainda mais sólido que vai nos ajudar a conseguir verbas e apoios específicos para o setor, como o Arranjo Produtivo Local de Cerâmica (um projeto de lei que permite que os ceramistas angariem recursos diretamente do estado, sem passar pela Prefeitura), o Instituto Cultural de Cerâmica de Cunha (ICCC) e o Museu Municipal da Cerâmica (que desejamos retomar o projeto de construção da sede própria). Temos também o sonho de trazer o Salão Nacional de Cerâmica para o Sudeste, oferecendo nosso município como sede. O título de Capital Nacional da Cerâmica de Alta Temperatura incrementa o currículo da cidade para atrair novos parceiros e para que o eixo do turismo ganhe mais fôlego e se estabeleça de forma ainda mais duradoura e sustentável por aqui”.

Hoje, boa parte da população vive da produção e/ou comercialização desses artefatos e Cunha é tida como um importante polo de arte em cerâmica no Brasil e na América do Sul, com mais de 25 ateliês dedicados à produção de peças artísticas e utilitárias, e percebe-se um fator muito interessante: novos artistas vêm surgindo oriundos da própria comunidade.

Para Giltaro Suenaga Jardineiro, do Atelier Suenaga & Jardineiro, “fazer parte da conquista desse título representa um reconhecimento de muitos anos de trabalho e é motivo de orgulho para mim, como ceramista e como cunhense. Além da nossa cidade ficar em evidência, é um jeito de sensibilizar as pessoas que não estão tão envolvidas diretamente com a cerâmica sobre a importância da arte para a nossa vida, tanto economicamente quanto histórica e culturalmente. Isso desperta a curiosidade e o interesse nelas e é uma forma de envolvê-las mais sobre o que acontece na própria cidade. O turismo que temos hoje em Cunha deve-se, em grande parte, também às atividades relacionadas à cerâmica, pois as pessoas vinham passear e se apaixonavam pelo que viam. Milhares de pessoas circulam anualmente nos ateliês da cidade, movimentando milhões na economia local. A cerâmica de Cunha, além de belíssima, é de uma qualidade ímpar e temos uma gama de ceramistas muito bons concentrados na cidade. Hoje somos referência mundiais na arte em cerâmica”.

Com a aprovação do PL, Museu Nacional da Cerâmica ganha novo fôlego

Para o prefeito de Cunha, José Eder Galdino da Costa, “nossa produção de cerâmica é muito mais que uma atividade econômica, ela é vista como uma importante atividade cultural e perpassa pela história de muitas famílias que escolheram Cunha como lar. As peças produzidas, além de lindas, são únicas e cada artefato conta uma história. O trabalho dos ceramistas é detalhista e a conquista desse título é uma importante chancela do excelente movimento que vem sendo feito ao longo de décadas, não só para reconhecer o trabalho dos ceramistas, mas para chancelarmos a identidade dos cunhenses, que se reconhecem nessa atividade e têm orgulho de suas origens. Sermos oficialmente a Capital Nacional da Cerâmica de Alta Temperatura nos ajuda a manter nossas tradições vivas e é uma forma de fortalecermos a sensação de pertencimento da população e nos dá mais capital – social, econômico e político – para tirarmos de vez do papel o projeto do Museu Municipal da Cerâmica como um verdadeiro presente de reconhecimento para nossa população. É um compromisso que faço aqui de materializar esse projeto para nossa cidade”.

Parabenizamos a todos os ceramistas e aos cunhenses pela obtenção desse título. É uma conquista de toda a cidade e um destaque importante como destino turístico do estado de SP.

Fotos: Atelier Suenaga & Jardineiro / Google.

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